Cacá D’Arcadia: Coragem, substantivo feminino

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Na minha primeira fala em público, a palavra Coragem foi o ponto de partida.

Aliás, Coragem e Esperança. Ambas substantivos femininos e ambas tão de propriedade das mulheres.

Ser mulher em um país cujos índices de violência são altíssimos é resistir e sobreviver. Embora seja necessário fazer recortes e reconhecer privilégios, todas as mulheres vão dormir sendo sobreviventes.

Na política não é diferente por se tratar de um ambiente hostil. Política, substantivo feminino, não o é na prática. Um exemplo simples: reuniões marcadas de última hora, há 500km de distância, ignorando a logística de quem é mãe, de quem cuida, de quem tem toda a logística que é ser mulher. Ser mulher é ser e ter logística.

Esse foi um exemplo simples que, ao ser comparado com outras vivências, chega a ser supérfluo. É pesado.
Mais uma vez o eleitorado feminino foi maior: 53%. Por outro lado apenas 33,3% das candidaturas foram de mulheres, o resultado é que nossa representatividade segue baixa em todas as esferas.

Esse quadro baixo no registro de candidatura se dá justamente pelo ambiente hostil citado, que vai muito além das interrupções em falas ou desconsiderações de nossas presenças nos ambientes (sim, acontece).

Outro dia, em uma audiência pública, ouvi que a ausência de mulheres na política é decorrente de falta de propósito de vida.

Imediatamente me lembrei das mães solo, sobrecarregadas, com capacidade de representar a população que não possuem tempo para agremiar-se, participar de atividades, muito menos recursos para bancar uma campanha. Pensei na minha amiga catadora que tem um potencial incrível para vereança, 4 filhos e um pai acamado. Olhei pra minha amiga, rindo, e me despedi. Tenho propósito, mas precisava buscar meu filho na escola.

Não é falta de propósito, é falta de Estado, de divisão de tarefas, de oportunidade.

Enfrentar um pleito é conhecer e reconhecer condições de adversidades contadas por outras mulheres ou tão bem descritas em livros de sociologia.

A cada eleição, novas regras eleitorais são criadas para que a participação feminina aumente. São instrumentos que nos auxiliam nas disputas internas e que, muitas vezes, infelizmente, são usados para artifícios de repasses de fundo eleitoral.

Fato é que temos instrumentos, temos um apoio crescente, ainda que lento, da sociedade. E seguiremos. Afinal, coragem e esperança são substantivos femininos.

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Cacá D'Arcadia tem 39 anos e é advogada, cientista social e escritora. Filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT) disputou uma vaga na Assembleia Legislativa de Minas Gerais em 2022.
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