Tiago Mafra: O quanto perdemos de água e dinheiro por ano?

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A captação, tratamento e distribuição de água nos municípios é de fundamental importância para a vida e a economia nas cidades. Garante a sobrevivência e qualidade de vida, a saúde e a redução de impactos da ação humana no ambiente.

Em Poços de Caldas, comparada à maioria dos municípios mineiros abastecidos pela COPASA, há o diferencial da existência do Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE), que desde 1965, como autarquia, realiza o trabalho de tratamento, abastecimento e esgotamento sanitário.

Dentro desse processo e histórico de importantes serviços prestados, há também as questões que se desenrolaram com o crescimento da cidade e seu perímetro urbano, o que demanda planejamento na ampliação e substituição das redes de captação e tratamento. Segundo os censos demográficos do IBGE, a população do município cresceu de 58 mil (1970) para 163 mil habitantes (2022), com crescente demanda por serviços oferecidos pelo DMAE.

Um dos grandes desafios desses serviços, é reduzir o volume de perda de água tratada. Essa tarefa é de extrema relevância, uma vez que há dispêndio de recursos públicos para realizar o processo tratamento e quando as perdas são elevadas, é na verdade perda de dinheiro público devido ao não estancamento dos focos de vazamento. A redução de perdas, implica, necessariamente, a liberação de recursos para investimentos, melhoria de sistemas e modernização de redes de captação, tratamento, monitoramento e distribuição.

Alguns dados extraídos da Câmara Municipal de Poços de Caldas, dão um panorama nos últimos 10 anos. Em 2014, o percentual de perda era de 42% do volume da água tratada (requerimento 204/2014). De janeiro de 2017 a dezembro de 2019, a média de perda era 35%, com picos de 45% de perdas (requerimento 144/2020). Em 2020, dos 18,3 milhões de m³ de água tratada/ano, 33% se perdiam. À época, o DMAE apresentou à Câmara Municipal um plano de redução de perdas. (requerimento 280/2021).

Atualmente, o DMAE conta com uma malha de redes para a distribuição de água tratada na ordem de 1.200.000 metros de redes (requerimento 353/2023), 56 bombas de elevação (elevatória ou booster) e gastou em 2022 R$ 101.682,13 com manutenção de Estações Elevatórias de Água Tratada e R$ 13.661,00 com estações Elevatórias de Esgoto (Requerimento 352/2023).

Com uma perda de 6 milhões m³ de água tratada por ano, se levado em consideração o último dado estatístico disponível no site do DMAE Poços de Caldas (http://dmaepc.mg.gov.br/volume/) de 18,3 milhões de m³ captados e tratados, significa que as perdas continuam em cerca de 32,7%, redução pequena se comparada ao percentual relativo a 2020 e distante dos 25% afirmado pelo Diretor Presidente da Autarquia em recente entrevista a programa de TV Web (14/07/2023).

O índice informado na entrevista pressupõe que o DMAE já teria capacidade de captação e tratamento anual de pelo menos 24 milhões de m³ de água por ano. Como os dados informados no site diferem desse pressuposto, não é possível afirmar o índice de perdas atual com precisão sem um pronunciamento atualizado do DMAE em instâncias oficiais ou em seu sítio eletrônico.

Com orçamento anual de 100 milhões de reais, uma perda de 25% representaria o desperdício de quantos milhões de reais ao ano? Se as perdas estiverem na casa dos 32%, a quantia do dinheiro público desperdiçado é ainda maior.

Por fim, um cálculo rápido, mas didático e alarmante: quem consome até 10 m³ de água por mês, paga R$ 3,18 por m³. Se levado em consideração esse preço, somente com as perdas físicas atuais por vazamentos, rompimentos ou envelhecimento da infraestrutura (6 milhões de m³ de água por ano) a autarquia deixa de arrecadar  anualmente 19 milhões de reais.

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Tiago Mafra é professor de Geografia da rede pública municipal de ensino e no pré-vestibular comunitário Educafro desde 2009. Brigadista de Solidariedade a Cuba (2011), Especialista em Filosofia (2011) e em Políticas Públicas para Igualdade (2018), Mestre em Educação (2019). Secretário Geral do PT de Poços de Caldas.
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