Diva Funchal: “Não tenho nenhuma pretensão política”

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Diva Funchal encarou por dois anos os desafios da máquina pública. A empresária atuou na gestão do prefeito Sérgio Azevedo (PSDB) na Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Trabalho (SEDET) como responsável pelo Fomento à Indústria e Comércio. Nessa entrevista para o site Coluna Bastidores ela fala sobre os desafios da pandemia para o setor, dos projetos implantados, do futuro promissor para a cidade e sobre a possibilidade de entrar para a política.

– Recentemente você teve uma passagem pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Trabalho (SEDET) à frente do setor de Fomento à Indústria e Comércio. Qual a sua avaliação a respeito do seu trabalho na secretaria? Qual foi o seu maior desafio e o que mais te agradou durante esse período?

Acredito que o meu maior desafio tenha sido passar pela administração pública. Foi uma novidade para mim, afinal, sempre estive na iniciativa privada. O modo de trabalho é completamente diferente. A máquina pública é mais pesada e burocrática. Chega a ser um choque, então, por isso, considero que tenha sido esse o meu maior desafio. O que mais me agradou foi conhecer de fato Poços de Caldas. Eu moro aqui há mais de 30 anos e achei que conhecesse a cidade. Mas não. Fui conhecer na secretaria. Uma excelente oportunidade para conhecer as necessidades e tentar entender as oportunidades. Foi apaixonante.

– Se sente orgulhosa pelo trabalho realizado?

Eu me orgulho de tudo. Todos os projetos foram maravilhosos. Me juntei à equipe no início da pandemia. A cidade ainda estava fechada, nada sabíamos sobre o que iria acontecer e não tínhamos ainda a menor dimensão do caos que o vírus traria para as nossas vidas. Foi quando decidimos nos unir e buscarmos uma solução em conjunto. Aquele era um momento em que apenas boas ideias não bastavam. Por isso, o primeiro passo foi convidar um empresário de cada setor da cidade e deixá-lo trazer outros para as discussões. Dessa forma, criamos o Comitê Extraordinário Econômico com a união de todos os  setores da economia e também das associações. Toda ordem econômica do município passou a se reunir a partir daí.

– Como foram essas conversas?

Excelentes desde o início. Fizemos uma análise SWOT de cada setor. Ou seja, um grande raio-x da cidade. Foi nessa fase, inclusive, que identificamos a inexistência de dados e indicadores atualizados de Poços de Caldas. Para resolver esse problema, fizemos uma pesquisa, disponível para todos, onde traçamos o perfil dos consumidores e a demanda de cada um dos bairros, por exemplo. Obtivemos um cenário completo da cidade.

– A população enxergou o trabalho do governo do prefeito Sérgio Azevedo (PSDB) de forma bastante positiva durante a pandemia. Você acredita que esse trabalho contribuiu para isso?

Com certeza. Feita essa pesquisa com os consumidores, partimos para uma pesquisa com as empresas. Buscamos o perfil, o nível de endividamento, as perspectivas para o futuro, enfim, mais um mapeamento. Mantendo sempre o diálogo com os empresários. Foram diversas ações ao mesmo tempo.

– Ou seja, enquanto as pessoas se recolheram vocês partiram para o trabalho…

Exatamente. Chegamos a totalizar mais de 100 projetos durante esse período. Após algumas reuniões, conseguimos fazer uma compilação e chegarmos a 54. Dos mais simples aos mais relevantes. Com um detalhe muito interessante: em determinados momentos era possível vermos concorrentes dialogando e buscando soluções para aquele momento que vivíamos. Acompanhar isso foi muito gratificante. Até então, a maioria dos empresários sequer sabiam o que era SEDET.

– E qual seria a razão desse desconhecimento?

Por até então não ter sido feito um trabalho de forma ampla. Obviamente a pandemia contribuiu para que a secretaria se tornasse uma vitrine. Tivemos que recuperar as vagas de emprego, especialmente na área de serviços e do turismo. A tentativa de buscarmos uma saída para a crise, de atrairmos investidores e levarmos esperança para os empresários foi muito importante.

– O trabalho foi bem amplo

O trabalho foi tão amplo que conseguimos auxiliar até mesmo os empresários que não estavam conseguindo pagar os aluguéis em dia. Essa foi uma etapa de muita conversa. Tudo através do Comitê. A Associação Comercial, por exemplo, nos apresentou essa demanda e tentamos fazer uma mediação. Alguns proprietários entenderam. Outros não, claro. Foi então que identificamos um movimento de mudança de pontos comerciais, por exemplo, para dentro de galerias onde o custo para manter o comércio aberto naquele momento era menor. Outros empresários foram para os bairros e, hoje, já começam a voltar para o Centro.

– O projeto Poços Juros Zero também foi importante para o reaquecimento da economia local?

Sim. Com esse projeto conseguimos atender especialmente MEI e pequenas empresas. Que são aqueles que tem mais dificuldades para conseguir empréstimos bancários, por exemplo. Se uma dessas pessoas fosse diretamente a uma agência bancária buscar por um auxílio financeiro, por exemplo, precisaria comprovar no mínimo 12 meses de faturamento e apresentar garantias. Sem deixar de lado, claro, os juros altos. Para facilitar a vida dessas pessoas, abrimos um chamamento público para as entidades bancárias que quisessem participar. Quanto aos empresários, entre os critérios para que se tornasse elegível ao empréstimo, estava a obrigatoriedade de se passar por um treinamento financeiro. Após esse treinamento era feita uma avaliação.

– E por que a obrigatoriedade desse treinamento?

No setor privado eu percebi que o pequeno empresário tem extrema dificuldade em lidar com o caixa da sua empresa. A grande maioria mistura tudo e utiliza esse caixa para gastos pessoais. O problema é que muitas vezes a quantia retirada do caixa não é o lucro. Mas nessa roda, apesar desse grande erro, o empresário vai tocando a vida. Só que com a pandemia, a roda parou de girar. Ele deixou de ter o caixa do dia e muito menos o de amanhã. Por isso a necessidade de um treinamento.

– Como funcionou a questão da CND (Certidão Negativa de Débitos) nesse processo?

Esse foi outro problema. Muitos empresários estavam com impostos atrasados e não havia o que se fazer. Foi necessário então abrirmos o REFIS (Programa de Recuperação Fiscal) e isso ajudou muita gente. Com todo esse processo, após a conclusão do chamamento público para as entidades bancárias, o empresário habilitado pôde ter acesso a R$ 15 mil, com juros zero e carência de 6 meses. Na sequência, fizemos uma parceria com o Sebrae e a PUC para auxiliar os empresários na gestão desse valor com o objetivo de que o empréstimo não virasse uma dívida futura. Houve todo um acompanhamento gratuito.

– Quantas empresas foram beneficiadas?

1.100 empresas. Lembrando que havia necessidade também de uma CND do Estado. Nesse ponto não conseguimos avançar muito. Mas colocamos em prática um programa para ajudar esse empresário a recuperar o seu nome, também em parceria com o Sebrae e a PUC. Essa consultoria foi muito útil. Também tivemos muitos que buscaram a formalização para se enquadrar e obter o empréstimo. A partir dessa formalização, o novo empresário passou a recolher o INSS, algo que considero de extrema importância. Afinal, um dia a gente envelhece. Foi a maior formalização de empresários na história de Poços de Caldas.

– Qual o impacto desse projeto na economia da cidade?

Foi um impacto positivo enorme. Ao todo, foram injetados R$ 14 milhões na economia do município. O Poços Juros Zero garantiu o emprego de muita gente, ajudou o pequeno empresário a suportar o período e a se organizar financeiramente.

 – Como se deu a implantação do Poços Fácil?

Nós tínhamos um tripé muito forte dentro da secretaria: atração de investimentos, qualificação de mão de obra e desburocratização. Criamos um projeto de desburocratização e aproveitamos a liberação por parte do Governo Federal de alvarás para aproximadamente 240 CNAEs. Já o governo estadual avançou mais com a liberação na sequência de 701 CNAEs. Atitude correta pois não havia a necessidade de segurar a abertura de algumas empresas em virtude de um alvará. Essas liberações ajudaram especialmente os médios empresários e os prestadores de serviço. Uma atitude que incentivou o empreendedorismo.

– Hoje uma pessoa abre uma empresa em Poços de Caldas em quanto tempo?

Enquanto eu estava na secretaria era em menos de 48 horas Graças a um programa integrado com todos falando a mesma língua. Nesse projeto também trabalhamos em parceria com o Sebrae que disponibilizou consultores para a implantação desse processo em todos os municípios de Minas Gerais. É quando surge então o Poços Fácil. Um único local para você resolver todas as suas questões burocráticas.

– Poços tem um eterno dilema entre ser uma cidade turística e ser uma cidade industrial. Você acha que é possível conciliar os dois?

Perfeitamente. Durante a pandemia nós vimos cidades como Canela e Campos do Jordão, por exemplo, que entraram em desespero. Aqui tivemos um impacto violento no setor, claro. Mas as indústrias continuaram funcionando. Isso deu uma segurada. Poços de Caldas é industrial, universitária e turística. Por isso conversamos com todos os setores. Atualmente nosso distrito industrial já não tem mais espaço. Quando chegamos na secretaria ele contava com 19 indústrias instaladas. Dois anos depois não há mais área disponível graças a chegada de novos investimentos. Nos próximos meses haverá o início de um grande processo de industrialização da cidade. Por isso chegou a hora da administração municipal pensar em Poços com um olhar especial para o futuro. E isso inclui transporte público, mobilidade, saúde, educação. Serão mais de 6 mil empregos diretos e 18 mil indiretos.

– Nós temos mão de obra para isso?

Não. Hoje a cidade já sofre com a falta de mão de obra. Empresas que já estão instaladas sofrem bastante nesse quesito.

– Qual o tipo de mão de obra em escassez?

Técnica.  Ao longo dos anos a cidade perdeu muitos talentos. Nós temos uma faixa salarial ruim. O poços-caldense que se forma aqui costuma ir embora, infelizmente. Mas em breve isso irá mudar. Quem vier estudar em Poços terá a oportunidade de ficar na cidade. Quem é daqui não precisará ir embora. Haverá emprego. Obviamente isso não acontecerá do dia para a noite. Será um processo a longo prazo.

– Você era filiada ao Partido Novo. Está filiada a algum partido?

Não.

– Tem vontade de ingressar na política?

Muitos já me fizeram essa pergunta. Mas não, hoje não tenho pretensão política. Minha experiência na administração pública foi maravilhosa. Mas vejo como vereadora, por exemplo? Não. Nunca busquei carreira política. É impossível que aconteça um dia? Não sei. É um desgaste danado. O processo eleitoral é muito complexo e desgastante.

– O privado se adapta bem no público?

Existem amarras, claro. Um processo licitatório é burocrático, existem interesses políticos, algo ruim, inclusive. Mas na vida empresarial existem outros desafios também tão complicados quanto no setor público. Para mim foi uma experiência muito gratificante. Deixei a Secretaria muito feliz.

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Rodrigo Costa tem 40 anos e é jornalista com MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político. Já atuou em rádios e emissoras de televisão de Poços de Caldas como a Difusora AM e a Transamérica FM. Desde 2016 também atua em assessorias de comunicação e coordenadoria geral de campanhas eleitorais.
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