O BASTIDOR DOS BASTIDORES
Já era fim de tarde na terça-feira, 21, quando o presidente da Câmara Municipal Douglas Souza (União Brasil) anunciou o intervalo regimental da sessão ordinária. Foi neste exato momento, que os proprietários dos trailers de lanche adentraram a Casa para protestar e, claro, solicitar a paralisação das obras da “Alameda Poços”. A movimentação de alguns parlamentares e de seus assessores, minutos antes dos comerciantes chegarem, revelam que o movimento foi orquestrado. Algumas pessoas sabiam o que estava prestes a acontecer. Outros, por outro lado, foram pegos de surpresa.
INTIMIDAÇÃO
Apitos, gritos de ordem e murros na mesa. Os primeiros parlamentares a serem inquiridos pelos manifestantes foram Kleber Silva (Novo) e Wellington Paulista (União Brasil). Durante a discussão, inclusive, veio à tona a revelação de que o Projeto de Lei 25/2023 assinado por 10 vereadores, alterando o código de posturas do município e liberando a atividade dos trailers de lanche em 9 diferentes locais da cidade havia sido negociado por ambos e uma das comerciantes – curiosamente quem resolveu naquele momento discutir com eles. Ontem, a expectativa era de que o PL fosse retirado de discussão.
MÃOZINHA
Já com a manifestação acontecendo no plenário, foi a vez de Lucas Arruda (Rede) aparecer em cena. Em um grande overacting digno do Framboesa de Ouro de pior ator do ano, encenou uma insatisfação próximo ao presidente. A cena é tão bizarra que – apesar da transmissão online estar com a faixa no meio da tela anunciando o intervalo regimental – foi possível enxergar o que estava rolando. “Eu não aguento mais”, gritou e gesticulou o parlamentar. Nesse momento, todos os colegas passaram a observá-lo.
É UMA CILADA, BINO
Se na semana passada, na região dos trailers, era comum ouvir dos donos frases como “o Dofu deveria deixar de ficar passando gel no cabelo e vir dialogar conosco”, dessa vez, durante a sessão, foram só elogios. Foi ele quem tomou a frente e marcou uma reunião entre um representante do grupo e a advogada que os representa junto a um representante do Executivo na tarde de ontem. Ficou acordado que ele também participaria do encontro. Durante a manhã, ele já havia estado na Casa Amarela. À tarde, por volta das 15h, publicou um vídeo em suas redes sociais anunciando que o cancelamento do encontro e criticou as atitudes antidemocráticas da administração municipal.
A OUTRA VERSÃO
A informação passada pela assessora do secretário municipal de Governo Paulo Ney de Castro aos proprietários dos trailers é de que foi Douglas Souza quem desmarcou a reunião. Ele nega.
PORÉM, NEM TUDO SÃO FLORES
Internamente, o presidente enfrenta desgaste. No retorno às atividades após o intervalo regimental, Souza destratou Kleber Silva. Em voz baixa, colegas que o apoiaram em sua eleição dizem ter se arrependido do voto. “O regimento da casa tem sido rasgado à cada sessão”, disse um vereador que pediu discrição. “Já se fala em impeachment do presidente por desrespeitar o regimento”, comentou outro que também pede para não ter seu nome revelado.
A VERDADE
A Câmara Municipal enfrenta um desgaste desnecessário. Os vereadores que compraram a briga foram alertados pelos demais de que ali, naquela altura, não haveria muito o que se fazer. A temperatura subiu. Falsas esperanças foram criadas. A conta, enfim, chegou. Como comentou o ex-prefeito Luiz Antônio Batista, “que seja uma lição para que nas próximas vezes ajam com mais objetivo, cautela e dentro das atribuições que lhes competem”.
DESPACHOS
O Juiz da 4ª Vara Cível da Comarca de Poços de Caldas, concedeu por volta das 17h uma liminar à Prefeitura garantindo a reintegração de posse do espaço. Por volta das 20h, um outro despacho, garantiu o prazo de 5 dias para que os proprietários retirem os trailers por livre e espontânea vontade. Importante lembrar que esse prazo já havia sido concedido pelo prefeito Sergio Azevedo (PSDB).
LACRAÇÃO
O vereador Tiago Braz (Rede), após a decisão, publicou um vídeo nas redes sociais: “Estou aqui nos trailers, derrubamos a liminar do prefeito contra os trabalhadores. É a justiça entendendo o direito do trabalhador e não fazendo como o prefeito que quer despejar as pessoas”. Importante ressaltar que do modo como o parlamentar falou, há uma falsa ilusão e esperança. A liminar dando a reintegração de posse não foi derrubada. O que houve foi um prazo determinado para que os trailers deixam o local – sob pena de serem retirados pela administração caso não o cumpram. A pergunta que fica é: seria má-fé ou desinformação?
