Ciça: “Jamais sairei do PT”

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Maria Cecília Figueiredo Opípari – ou simplesmente Ciça – foi vereadora e, pela segunda vez, tentou uma cadeira na Câmara dos Deputados. Nessa entrevista para o site Coluna Bastidores, ela fala sobre a experiência de ter passado por mais um processo eleitoral, diz que não pretende deixar o PT, garante não ter mágoa dos colegas filiados ao partido na cidade e afirma categoricamente.


– Qual a sua avaliação desse processo eleitoral recém-encerrado?

Tudo na vida da gente é experiência. Eu fico muito feliz pelos mais de dois mil votos que recebi em Poços de Caldas de pessoas que, mais uma vez, acreditaram em mim. Me surpreendi também com a votação que tive em algumas cidades como, por exemplo, Belo Horizonte. Lá foram mais de 500 votos. Uma campanha intimista, com amigos que deu resultado. Saí da campanha, repito, muito feliz.

– Você teve uma boa votação fora de Poços. Já foi possível entender como esses eleitores chegaram até você?

Ainda estou analisando. Tive algumas boas surpresas durante a caminhada. Da cidade de Frutal recebi o contato de um professor universitário que gostou muito do meu perfil. Ele procurava por uma candidata mulher, pediu meu material e conseguiu 25 votos para mim. Eu sequer estive no município. Agora quero conhecê-lo pessoalmente.

– No total você recebeu aproximadamente 6 mil votos. Foi o esperado?

Algumas pessoas dizem que é pouco. Discordo. Sempre fui da opinião de que uma pessoa que sai de casa em um domingo para dar um voto de confiança em outra pessoa é algo que deve ser valorizado. Poços de Caldas teve muitos candidatos. Tanto a Estadual quanto a Federal somados aos que vieram de fora. Sem esquecer, claro, da onda bolsonarista que veio muito forte. Mas o que mais me deixa feliz foi a bancada do PT ter aumentado. Como candidata também contribui para isso – independentemente de ter sido eleita ou não.

– Poços de Caldas contou com três candidatos a Deputado do PT. Foi de fato um racha?

A questão partidária é muito complicada. Todas as pessoas têm o direito de se candidatar. Eu fui convidada pelo presidente estadual do PT que veio a Poços de Caldas e me convidou para ser candidata. Acabei topando. Não sinto mágoa das pessoas e muito menos mágoa do partido a nível municipal. Algumas coisas ficaram sem serem ditas ou esclarecidas. No final de semana antes da eleição eu encontrei a Cacá (candidata a Deputada Federal) e o Paulo Tadeu (presidente do PT em Poços de Caldas) e ficamos de tomar um café. A gente vai conversar.

– Não pretende deixar o PT?

Isso é algo que eu gostaria de deixar algo bem claro. Nunca pedi para sair do partido. O que eu pedi foi um afastamento para colocar a minha vida em ordem. Nunca pedi desfiliação, nada. Jamais sairei do PT. O Lula, inclusive, é bom exemplo para essa sua pergunta. Ele vai reconstruir o Brasil conversando com pessoas de todas as siglas. Baseado nisso, por que vou deixar de conversar com pessoas que são filiadas ao mesmo partido político que eu? Acredito que algumas questões locais precisam sim serem reorganizadas. As pessoas dentro do PT precisam parar de falar que eu não sou petista. Parar de falar que eu não sou filiada ao PT e que sou contra o PT. Sempre fui eleitora do Lula, sempre fui uma defensora das causas da esquerda. É hora de reconstruirmos essa história em Poços de Caldas junto com o governo Lula.

– Pretende ser candidata novamente?

Não sei. Já deixei isso bem claro paras as pessoas mais próximas, inclusive. É preciso deixar o ego de lado. Eu não tenho sede pelo poder. O poder não me corrompe. Não sobe à minha cabeça.

– Você participou bem pouco das ações em Poços de Caldas dos partidos que apoiaram a candidatura de Lula e Alckmin. Especialmente no segundo turno. Por quê?

Por não ter sido convidada. Ninguém me convidou. Eu via sim as informações das atividades que iriam acontecer. Mas nunca recebi uma ligação ou um convite para participar. Na minha cabeça, eu achava que eles não me queriam nesse movimento. Por isso não participei. Fiz a minha parte da maneira que eu pude ajudar.

– Você também não esteve na visita do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB). Qual o motivo?

Também não fui convidada. Recebi uma mensagem do ex-prefeito Eloísio do Carmo Lourenço (PSB) pedindo para eu confirmar minha presença em uma mesa de debates. Mas ninguém havia conversado comigo a respeito, o que de fato iria acontecer. O PT de Belo Horizonte também não soube me falar a respeito. Depois eu soube que toda a organização ficou por conta da equipe de campanha da chapa majoritária. Acredito que dava para ter sido algo melhor e com a presença de mais pessoas. Foi elitizado. A escolha do local também não ajudou.

– Você trabalhou bastante para a campanha do Lula…

Trabalhei muito! Andei nos bairros, fui até as faculdades, andei pelas ruas, visitei os meus vizinhos e conversei com os indecisos. Compartilhei muito material nas redes sociais. Essa foi a minha parte. Andei muito por Poços de Caldas sem questão de mostrar o que estava fazendo.

– Você sofreu alguma represália nas ruas?

Não. Em nenhum dos dois turnos. Também não sofri nenhum tipo de ameaça. No primeiro turno houve apenas um caso isolado. Estávamos fazendo uma ação perto das Thermas, minha equipe e eu, quando um homem gritou que não éramos de Deus por apoiar o Lula.

– Como você o cenário municipal hoje e qual o seu prognóstico para os próximos dois anos?

O prefeito Sérgio Azevedo se acha soberano. Sua administração está desgastada. Especialmente com a não eleição do seu candidato que teve uma votação baixa. Há um claro enfraquecimento do grupo. Também há na cidade a questão da desunião. Não há diálogo, especialmente entre os homens. Tudo isso somado ao fato de que nós, mulheres, atuamos de forma isolada. Seja na esquerda ou na direita, os homens não gostam que façamos parte da cena política.

– Você acredita que o prefeito transferiu a rejeição dele para o Celso Donato (PSD)?

A rejeição do Donato é automática. É dele mesmo. Não sei se o prefeito influenciou nessa rejeição. As pessoas não gostam da postura dele. Mas é bom deixar claro que essa rejeição, muitas vezes, não é do Celso Donato como pessoa. É da sua figura política.

– Qual a sua avaliação da Câmara?

Péssima. Faltam debates construtivos. Não aguento mais assistir a transmissão e ver a quantidade de moções. É moção de apelo, protesto… Eu critiquei isso na legislatura da qual fiz parte. Sem falar das discussões nacionais trazidas para o cenário local. As pessoas em Poços de Caldas estão passando fome. É necessário resolver os problemas da cidade.

– Os formadores de opinião da cidade têm ideia da realidade da cidade?

Nenhuma noção. Eu andei muito pela cidade. Como sempre andei. Poços de Caldas tem pessoas que não tem o que comer. Que passam dificuldades e que moram na rua não porque querem. Tem gente que não consegue ter acesso ao Auxílio Brasil. As chamadas “pessoas do centro” vivem totalmente fora da realidade.

– Sente saudades da Câmara?

Sinto saudade de alguns funcionários de lá. Mas não sinto saudades da rotina da Câmara. Nos últimos anos que fiquei lá eu me senti adoecida. O ambiente é insalubre. As pessoas têm dificuldade para respeitar a opinião do próximo. Os vereadores mais conservadores têm dificuldade para entender que não estão lá para legislar unicamente para os seus eleitores. Com isso, se formam nichos ou grupos que prejudicam o andamento da casa.

– Na sua opinião, quais os vereadores que se destacam de forma negativa?

Me surpreendi negativamente com o Claudiney Marques (PSDB). A postura dele é de conhecimento zero para o cargo que ocupa. Com todo respeito a figura dele, claro. Minha visão a respeito dele era totalmente diferente. Ele entra em assuntos espinhosos, às vezes de forma agressiva, inclusive, contra pessoas que votaram nele. Eu também sempre tive e continuo a ter ressalvas em relação ao Ricardo Sabino (PSDB). É um vereador que também não consegue respeitar a opinião do outro e a diversidade.

– E positiva?

O Diney Lenon (PT), a Luzia Martins (PDT), o Douglas Souza (União Brasil) com quem tenho um bom relacionamento, o Tiago Braz (Rede) e o Lucas Arruda (Rede). Todos esses eu acredito que têm consciência do que representam e sabem conversar.

– Como você pretende atuar politicamente daqui pra frente?

Atualmente eu estou cursando psicologia. Pretendo me dedicar ainda mais aos estudos no próximo semestre. Estou montando um blog para debater o direito das pessoas. Ainda não sei qual será o meu futuro político daqui pra frente. O Luizinho (PT), candidato Deputado Estadual que contou com meu apoio em Poços de Caldas foi eleito…

– Você recebeu convite para se tornar assessora dele?

Oficialmente não conversamos sobre isso. Gosto muito dele, tenho certeza de que será um Deputado atuante e quero trazê-lo várias vezes a Poços de Caldas.

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Rodrigo Costa tem 40 anos e é jornalista com MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político. Já atuou em rádios e emissoras de televisão de Poços de Caldas como a Difusora AM e a Transamérica FM. Desde 2016 também atua em assessorias de comunicação e coordenadoria geral de campanhas eleitorais.
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