Andre Vilas Boas: “Sou pré-candidato a prefeito pelo partido Novo”

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Em sua primeira disputa a um cargo público, André Vilas Boas obteve 6.491 votos na disputa de uma cadeira na Câmara dos Deputados. Em entrevista para o site Coluna Bastidores, ele fala sobre a experiência de participar de uma eleição, faz uma análise do desempenho do partido Novo no Brasil e em Minas Gerais e se coloca como pré-candidato a prefeito de Poços de Caldas em 2024.

– Como você define a experiência de, pela primeira vez, participar como candidato em um processo eleitoral?

Considero um mestrado. Especialmente sobre pessoas. Uma alegria imensa em receber o apoio de muitos que nunca imaginei. Mas com espaço também para algumas decepções. Especialmente de quem eu esperava apoio mesmo que discreto e que sequer publicaram algo nas redes sociais, por exemplo. Ou seja, frustração com algumas pessoas e uma alegria gigantesca com outras.

– Pode-se dizer então que foi um aprendizado sobre as pessoas?

Sim. Mais do que político, inclusive. É um processo que nos faz entender muito sobre o ser humano, sobre as relações sociais. Foi uma aula. Foram várias aulas. Válido demais ter participado embora o resultado eleitoral não tenha sido o esperado.

– Como você lidou com a quantidade de votos que obteve ?

Mal. Sem eufemismos. Fizemos uma pesquisa interna ainda durante a campanha eleitoral e o indicativo era completamente diferente. Muito melhor do que a quantidade de votos que recebi em Poços de Caldas. Nunca cogitei que alguém de fora da cidade pudesse ter aqui a quantidade de votos que o  Nikolas Ferreira (PL) alcançou. É algo sem precedentes. Nossa cidade sempre foi conhecida pelo bairrismo nas eleições. Esse é claramente o resultado de um fenômeno que envolve as redes sociais. Acredito que em 2024, inclusive, isso deve se repetir.

– Mas você vê o resultado do Nikolas como fruto de um trabalho das redes sociais?

Sim. Não basta você investir em redes sociais no ano das eleições. Existe uma construção de imagem, algo que ele fez. A rede social com a construção de imagem durante um longo período dá resultados e foi exatamente o que ele fez.

– Mas você investiu bastante em redes sociais…

Minha campanha foi apenas redes sociais. Mas se você comparar a consistência da imagem do Nikolas com a minha é notório que a dele já era mais definida. Em Poços eu fui o único candidato a Deputado Federal genuinamente de direita. Muitos que se diziam de direita não eram de fato. Minha aposta era essa. Só que aí veio o Nikolas, de Belo Horizonte, com uma imagem mais consolidada do que a minha junto a esse eleitorado e levou os votos que poderiam ser meus. Se as opções fossem apenas os candidatos da cidade, as pessoas teriam votado em mim.

–  Hoje, você faria algo diferente do que fez durante as eleições?

A médio e curto prazo eu não mudaria nada. O que eu faria diferente? Ter feito um planejamento 4 anos antes. Para as eleições gerais não há mais espaço para quem se prepara dentro de 1 ano e meio. Também ficou provado que apenas dinheiro não faz alguém ganhar uma eleição. Tivemos candidatos com R$ 2,5 milhões de recursos com um resultado muito aquém do esperado, especialmente se comparado com 2018. Acredito que esse fenômeno vá se repetir. A forma como o eleitor escolhe o seu candidato mudou.

– O partido Novo não conseguiu atingir a cláusula de barreira e não conseguiu fazer um Deputado Federal em Minas Gerais onde o governador Romeu Zema (Novo) foi eleito no primeiro turno. Por que o partido teve esse resultado ruim no Brasil e, especialmente, em Minas Gerais?

O resultado ruim não foi do Novo. Foi de todos os partidos que não estavam claramente com Jair Bolsonaro (PL) ou com Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No primeiro turno nosso partido tinha um candidato a presidente e isso atrapalhou bastante as eleições para Estadual e Federal. Esse foi o resultado de uma eleição polarizada. Ou você estava do lado de um ou do lado de outro. Quem ficou no meio foi esmagado.

– Você considera um erro o Novo não ter apoiado a reeleição de Bolsonaro no primeiro turno?

Do ponto de vista de estratégia eleitoral, foi. Do ponto de vista ideológico, não. Seguimos a nossa ideologia partidária de colocar um candidato no processo eleitoral e de defendermos as pautas liberais e econômicas do partido. Ou seja,  ideologicamente acertamos. Mas isso teve um preço.

– Você não acredita que hoje a figura do Zema está descolada do partido?

Todo político de sucesso descola da imagem do partido. Não é o Zema.

– Então você concorda que o Zema está maior do que o Novo?

Sim, mas repito: não é o Zema que está maior do que o Novo. Todo político de sucesso fica maior do que o seu partido. Bolsonaro é maior do que o PL. Lula é maior do que o PT.

– Houve uma dificuldade de transferência de votos de Zema para seu candidato ao Senado e aos seus candidatos a Estadual e Federal?

Não houve por parte do governador a tentativa de eleição apenas de candidatos do Novo. Ele apoiou todos os candidatos da nossa coligação.

– Isso te frustrou?

Obviamente eu queria um apoio exclusivo, mas imaginava que isso não fosse acontecer. Eu sabia que os demais candidatos da coligação teriam apoio. Talvez não seja o caso de se sentir frustrado, afinal, eu conheço as regras do jogo. Não fiquei feliz. Acho que essa é a definição correta.

– Você chegou a cobrar esse apoio exclusivo para o Novo?

Não. Cobrei que o partido não apoiasse alguns candidatos.

– Quais candidatos?

Celso Donato foi um deles.

– Por quê?

Pela incoerência dele de se filiar no PSD e dizer que apoiava o Zema. Eu ainda sou ideológico. Quando você apoia um senador de esquerda, como foi o caso e um governador de direita, fico pensando… O que essa pessoa quer para o Brasil? Como será sua atuação no congresso? Água e óleo não se misturam.

– Então você não acredita em um meio termo?

Acredito na política de centro. Ela existe. Mas apoiar o PT e o Novo não é centro, é fisiologismo. Existem pessoas sim, moderadas nos campos econômico e social que são de direita. Ser de centro não se confunde com ser fisiológico.

– Você se arrepende de ter disputado uma cadeira na Câmara Federal e não na Assembleia?

Não me arrependo. Na nossa região fizemos um Deputado Estadual, o Dr. Mauricio. Ele era o nome mais forte na região e acabou sendo eleito.

– Você chegou a anunciar uma dobradinha forte com ele ainda no período pré-eleitoral. Ela se concretizou?

Tínhamos um acordo em poucas cidades. Aliás, esse foi um erro estratégico meu. Firmei parcerias com muitos candidatos a Estadual e acabei não fortalecendo vínculo com ninguém. Esse eu considero um grande erro meu. Quando temos diversos parceiros, como foi o caso, fica difícil trabalhar de forma incisiva com determinado candidato. Eu atribuo essa falha a mim, principalmente. Essa, inclusive, foi outra novidade do processo eleitoral. De certa forma, as dobradas não são mais tão importantes como antigamente. Especialmente entre os eleitores ideológicos.

– Quando conversamos antes das eleições, você não acreditava no potencial das bandeiras e dos populares santinhos. Sua percepção mudou?

Não mudou. Mas eu estaria mentindo se te dissesse que esse tipo de material é totalmente ineficaz. Mas não ganha a eleição. Teve candidato com mais de 200 cabos eleitorais, deixando material em diversas residências e que teve um resultado ruim. Antigamente, uma pessoa com um trabalho forte nessa área estaria eleita. Houve, portanto, uma mudança. Hoje, qual estratégia ganha uma eleição? Não sei te responder. Tudo mudou e continuará mudando. Repito o que falei agora pouco: uma imagem trabalhada nas redes sociais por anos ainda é o melhor caminho.

– Você recebeu algum tipo de convite para integrar o segundo governo de Zema?

Ainda na segunda-feira logo após o primeiro turno, o vice-governador eleito Matheus Simões entrou em contato comigo. Somos amigos muito antes dele ser cotado para disputar o cargo. Por telefone, ele fez um convite para que eu integrasse a equipe do governador. O secretário de Governo Igor Eto, através do seu assessor, entrou em contato na semana seguinte também com um convite. Mas pensando na minha vida profissional em Poços de Caldas e especialmente no fato de não querer depender da política financeiramente, rejeitei.

– Planos para 2024?

Quando rejeitei os convites para fazer parte do governo me foi solicitado que eu coordenasse algumas cidades da região e analisasse a possibilidade de lançar candidatos nesses municípios nas próximas eleições municipais. Em Poços de Caldas pediram para eu me colocar como pré-candidato a prefeito. Dessa forma, meu nome está à disposição do Novo para disputa de 2024 na nossa cidade. Não há uma certeza de que serei candidato no futuro. Mas hoje, sim, sou pré-candidato a prefeito pelo partido Novo.

– E por que não seria uma certeza?

Diferentemente da candidatura para Deputado, quando me coloquei na disputa de forma irredutível, tenho consciência de que em uma disputa para a prefeitura o cenário é um pouco diferente. Já estou conversando com o governo estadual. Temos que buscar uma estratégia boa para a cidade, até porque o Lula foi eleito presidente e não podemos permitir que o PT chegue ao governo municipal em Poços de Caldas. É necessário haver união e consenso do nosso lado. Meu nome está à disposição. O foco é ter um governo municipal de direita. Repito: não podemos permitir que o PT volte ao poder na cidade.

– Está descartada a possibilidade de uma candidatura a vereador?

Não está descartada. Mas é muito menos provável do que eu ser candidato a prefeito. O Novo terá chapa para a Câmara Municipal e buscaremos partidos para formar uma coligação para a disputa majoritária. Não disputaremos sozinhos. Há um consenso de que o Novo precisa crescer nas próximas eleições ou a legenda caminhará para a extinção. Teremos candidatos em várias cidades do Brasil. O que não fizemos em 2018, que foi um erro, faremos em 2024.

– Você não sendo candidato, quais seriam os nomes para 2024?

Três nomes me despertam confiança. O vice-prefeito Júlio Cesar de Freitas (União Brasil), o presidente da Câmara Marcelo Heitor (PSC) e o vereador Flavio Togni de Lima e Silva (PSDB).

– No segundo turno você se posicionou a favor da reeleição de Bolsonaro. Por quê?

Porque do campo de vista ideológico e, principalmente, econômico é muito mais próximo de mim do que Lula. Esse, por sinal, é totalmente antagônico a mim. Lula defende a revogação do teto de gastos, da reforma trabalhista e do retorno do imposto sindical, por exemplo. Isso não é apenas algo que eu não concordo. É algo que eu combato. Por mais que eu tenha divergências com o governo Bolsonaro, do ponto de vista econômico há mais proximidade com meu ponto de vista ideológico.

– Você questiona o resultado das eleições?

Não questionava até a semana passada. Desde então comecei a questionar as urnas eletrônicas com data anterior a 2020. Baseado no laudo apresentado pelo PL ao TSE. A partir daí, pela primeira vez, comecei a defender que é preciso prestar atenção. Se tenho certeza, convicção ou acredito em uma possível fraude? Não. O que existe da minha parte é uma dúvida.

– Você defende o cancelamento das eleições?

Defendo que seja apurado. Se o TSE não conseguir explicar tecnicamente o motivo dos questionamentos, sim, defendo o cancelamento. É necessário termos uma resposta técnica. Resposta política para mim não tem serventia. Pergunta técnica, resposta técnica.

– Você questiona o resultado do segundo turno ou de ambos os turnos?

Do primeiro turno eu não vi laudo. Mas do segundo turno já questiono.

– O que espera de 2023?

Diálogo. Muito mais diálogo, sem sombra de dúvidas.

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Rodrigo Costa tem 40 anos e é jornalista com MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político. Já atuou em rádios e emissoras de televisão de Poços de Caldas como a Difusora AM e a Transamérica FM. Desde 2016 também atua em assessorias de comunicação e coordenadoria geral de campanhas eleitorais.
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