Briga familiar e maus-tratos: o descaso dos sócios administradores da Fazenda Palmar em Sapucaí-Mirim

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Quase na divisa entre Minas Gerais e São Paulo está localizado Sapucaí-Mirim. Esse é um daqueles pequenos municípios mineiros, com pouco mais de 6 mil habitantes, cravado na Serra da Mantiqueira. O caminho mais utilizado é aquele que liga o sul do estado à cidade paulista de Campos do Jordão.

De carro, até chegarmos à Sapucaí-Mirim, as placas indicam que ora estamos em terras paulistas, ora em terras mineiras. Por lá o clima é ameno. A população simpática. Mas quando o assunto é uma fazenda localizada no município, o silêncio se faz presente. Não é para menos.

Os personagens

A Fazenda Palmar é administrada pela Palmar Empreendimentos cujo escritório localiza-se em Pinheiros, São Paulo, um dos bairros nobres da capital paulista. Importante ressaltar que, hoje, a Palmar Empreendimentos é composta por herdeiros. Rita de Cássia de Arruda Sampaio e Moacir Nicodemos Marte são os sócios administradores. Outros dois irmãos compõe o quadro societário da empresa como sócios minoritários.

O local foi adquirido em 1990. Objetivo era o uso familiar. Um local para encontros, confraternizações, lazer e diversão. Com o passar dos anos, a Palmar se tornou também um espaço para abrigar animais abandonados. A ação começou com o patriarca que, com a ajuda de funcionários e sem qualquer interesse financeiro, faziam o resgate e ofereciam os cuidados a todos eles.

Abandono e decadência

O abandono de animais nas cidades, de todas as espécies, é uma realidade. Poucas possuem planejamento previsto por lei para a vacinação e castração de animais de rua, além do encaminhamento para adoção.

Na grande maioria dessas cidades podemos notar um aumento populacional de cães e gatos e, consequentemente, a propagação de possíveis zoonoses, já que esses animais podem se tornar hospedeiros e transmissores de doenças. Trata-se, sim, de um caso de saúde pública e a Fazenda Palmar, de certa forma, sempre cumpriu um papel importante nesse sentido para a sociedade local. Trabalho, por sinal, reconhecido. Inclusive pelas autoridades.

Porém, com o falecimento do patriarca e agora sob gestão de Moacir e Rita, os recursos para o cuidado com esses animais diminuiu consideravelmente. A falta de aporte financeiro para a manutenção do local é visível. A grande quantidade de funcionários, inclusive, ficou no passado.  Quem visita a fazenda, rapidamente, nota a decadência

Retrospecto histórico da Fazenda Palmar.

Maus-tratos

Conforme apurado pela reportagem, a Palmar reúne hoje 11 gatos, 89 cães e 27 cavalos. São diversos os indícios de maus-tratos. Um médico veterinário chegou a ser contratado por Ana Paula Marte, uma das herdeiras e sócia minoritária, para avaliar a saúde de todos eles. As informações constam em um processo que tramita na justiça.

Em visita, o veterinário contratado, identificou que os 27 cavalos estavam soltos sem qualquer tipo de supervisão. Não havia água. O laudo revela também que dois deles apresentavam estado anêmico. Outro, estava magro e abaixo do peso. Reflexo de uma possível redução alimentar e confinamento além do recomendado.

Laudo veterinário anexado ao processo judicial

Uma comerciante de Sapucaí-Mirim diz que um cachorro fugiu e que uma recompensa chegou a ser oferecida. “Houve uma comoção quase que generalizada na cidade”, comenta.

As notícias de descaso com os animais ultrapassaram as cercas da Fazenda Palmar e chegaram a rodas de conversas de Sapucaí-Mirim. “Os animais por lá não são vacinados”, diz um morador que afirma ter provas que confirmam a informação. “Os donos são poderosos, são de cidade grande, a gente finge que não sabe de nada. Só que não somos bobos”, comenta. “Já deu até Polícia por lá por causa de denúncias”, garante.

Investigações

De fato, ainda em 2021, um Boletim de Ocorrência foi lavrado no município de Paraisópolis após um colaborador contratado por Ana Paula ter sido expulso da fazenda por ordem dos sócios-administradores. A ação teria sido executada por Mauricio Pupio, gestor local. Um inquérito policial foi instaurado meses depois e uma perícia foi realizada pela Polícia Científica de Itajubá. Um relatório preliminar confirmou a suspeita de maus tratos e a precarização da saúde dos animais.

Após a instauração do inquérito, mais uma vez, Ana Paula encaminhou uma equipe de médicos veterinários e auxiliares para prestar cuidados necessários para aos animais – incluindo a vacinação, além dos cavalos, de 11 gatos e 89 cães. Mais uma vez, a equipe médica veterinária foi impedida de adentrar o interior da fazenda sob a alegação, por parte de Pupio, de que a entrada não estava liberada pelos sócios-administradores.

A vacinação contra a raiva nos animais é recomendada a partir de três meses de idade, reforço após 30 dias e a revacinação anual para controle. A imunização é recomendada para rebanhos de bovinos, ovelhas, cabras, suínos, cavalos, cães e gatos na área rural. Quem deixar de realizar a vacinação, ou não enviar o comprovante até a data estipulada, pode levar multa, sendo essa cobrada em unidades fiscais por animal

“Algumas pessoas começaram a ir ao local cobrando e ficando preocupadas com o estado dos animais, porque chegaram notícias de que eles estavam sendo maltratados. Quem aparecesse por lá cobrando informações, recebia ameaças pelas entrelinhas para que não fossem mais à fazenda”, diz outro morador em conversa com a reportagem. “Você não vai colocar meu nome no jornal, né? Não quero problema com magnata da cidade grande”, diz.

Exploração

Cavalos são explorados comercialmente

Outrora familiar, hoje, os animais da Palmar são explorados comercialmente. Daniel Cristiano dos Santos, proprietário de um pesqueiro, próximo ao local, oferece passeios com cavalos da fazenda. Hospedagens próximas ofertam para os seus hóspedes passeios a cavalo, quadriciclo e tirolesa, utilizando a propriedade como rota de passeio e, até mesmo, heliponto.

Tabelo de preços de exploração animal

A realidade da Fazenda Palmar é bem diferente de outras fazendas administradas e haras administradas por Moacir e Rita de Cássia. Tais fazendas praticam o comércio regular de venda de cavalos árabes para competições internacionais.

Cavalo é um dos bem cuidados em outra fazenda administrada pela familia. Maus-tratos se resumem a fazenda em Sapucaí-Mirim

Na fazenda de Sapucaí-Mirim, a realidade é antagônica. Em meio a uma disputa familiar, os animais sofrem. Injustamente.

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Rodrigo Costa tem 40 anos e é jornalista com MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político. Já atuou em rádios e emissoras de televisão de Poços de Caldas como a Difusora AM e a Transamérica FM. Desde 2016 também atua em assessorias de comunicação e coordenadoria geral de campanhas eleitorais.
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