É geral a indignação com a retirada de árvores da Avenida João Pinheiro, fato que causou enorme controvérsia e repulsa nos cidadãos de Poços de Caldas. A alegação oficial por parte do prefeito e seus auxiliares é que as árvores ameaçavam a segurança dos pedestres e dos veículos que passavam por lá. Inclusive há um laudo assinado por um engenheiro florestal da prefeitura reforçando a tese.
Trata-se de uma meia verdade, sendo generoso com as palavras. Claro que árvores antigas precisam de reparos e de podas programadas, além de monitoramento periódico. Na prefeitura, na Fundação Jardim Botânico (FJBPC) e na secretaria de Meio Ambiente, no DME, não faltam técnicos e técnicas competentes para a supervisão dessa atividade.
Porém, para espanto geral, muitas que nem necessitavam de podas foram totalmente retiradas e destruídas. Por que retirar árvores saudáveis? Qual interesse por trás disso? Qual a motivação? Qual a justificativa? Por que os profissionais da FJBPC e Prefeitura não foram ouvidos ou consultados?
Com o desenvolvimento dos fatos, tudo direcionou os olhos para o monotrilho. Sim. Aquele elefante branco que nunca operou efetivamente, não opera e provavelmente não vai operar seria o responsável pelo corte das árvores?
O monotrilho, que é um empreendimento particular, de contrato assinado em 1982 e inaugurado oficialmente em 2000, originalmente concebido como transporte elevado de massa, mas que funcionou poucas vezes como um equipamento de turismo, foi realizado pela antiga concessionária, empresa J. Ferreira Ltda. e agride visualmente e diariamente, há mais de 40 anos, quem é usuário da bela avenida.
Imaginem se uma viga daquela cair num veículo ou em pedestres e ciclistas. Essa estrutura é de enorme risco para os usuários da avenida, seja porque as fundações dos pilares sofrem recalque, agravado pelo crescente volume pluviométrico dos tempos atuais, seja porque a concepção dessa estrutura é precária e não proporciona segurança necessária, uma vez que passa períodos longos sem qualquer manutenção.
Há um laudo de 30 de novembro de 2021 que diz:
“A vistoria foi realizada através de visitas realizadas in loco e exames visuais, não sendo feitos testes de resistência, módulo de elasticidade, carbonatação etc. (…) Concluindo, podemos afirmar que o equipamento urbano até o presente momento NÃO CORRE RISCO DE COLAPSO, deixando claro que, devem ser tomadas providências para a resolução das patologias existentes. As patologias encontradas, causadas pelos fatores expostos tendem a aumentar e consequentemente a piora da situação.”.
Segundo o Prefeito Sérgio Azevedo, em resposta à Câmara (Requerimento 652/2022) “As recomendações feitas pelo Eng. Antônio Ernesto Guidugli constam no relatório e (…) caso sejam realizadas por equipe própria do Município, terão baixo custo”. Porém, em 31/03/2023 foi publicado no Diário Oficial do Município a habilitação das empresas licitantes para execução de serviços de reforma, manutenção e conservação das estruturas do monotrilho de Poços de Caldas. Caso não haja recursos, a abertura dos envelopes com as propostas será dia 13/04/2023.
Esse monotrilho não se viabiliza nem como simples atrativo turístico, nem como sistema de transporte. Questões simples ajudam a compreender o tamanho da armadilha: quanto teria que custar a passagem para uma empresa operar e obter lucro com esse sistema? Quantos anos para o retorno desse investimento? Mesmo assim, o Prefeito desobriga a empresa concessionária de suas responsabilidades ao assumir para o município a estrutura e o ônus de manutenção da mesma.
Em resposta ao requerimento 149/2022 da Câmara Municipal, a Prefeitura afirma que “no momento, não dispomos do valor estimativo para colocar o monotrilho em funcionamento”.
O estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental realizado pela TÜVRheinland idealizou uma ampliação das linhas para zona leste e zona sul, demandando construção de mais trilhos e aquisição de mais veículos operacionais para tornar o transporte adequado à demanda. O estudo fala ainda em “retirada da estrutura atual e instalação de um novo sistema funcional”. O estudo demonstra ainda que expandir o monotrilho para as demais regiões estaria orçado em R$1,5 bilhão. A demolição da parte já existente, que vai do centro à zona oeste, é orçada em mais de R$ 2 milhões. O custo geral por km previsto é de quase R$ 65 milhões.
Uma forma mais adequada de condução do tema seria a realização de uma audiência pública com representação do CREA, CAU, Universidades, sociedade civil e população em geral, sobre o problema da Avenida João Pinheiro e especificamente do monotrilho. Isso possibilitaria a transparência nas discussões, além de traçar metas claras de resolução do imbróglio. Importante também avaliar as tubulações de água e esgoto que seguramente devem ser revistas, devido ao adensamento e verticalização na zona oeste.
A tônica deve ser a construção de alternativas ouvindo a população e as entidades de técnicas, que levem em conta os veículos, tráfego, bicicletas, moradia, serviços, a cidade como um todo, de forma ampla, num apontamento de elaboração de projetos e captação de recursos que seguramente retornarão à disponibilidade com a reativação de ações similares ao PAC, que trazem consigo muito dinheiro para custeio de ações no municípios.
Há muita gente capaz de participar da discussão do tema, mas é necessário menos prepotência, mais participação, menos interesses, mais competência.
Texto com a colaboração de Jorge Jabur, engenheiro formado pela Escola Politécnica da USP (1993), Pós Graduado em Estruturas e Fundações (IPOG) e Gestão Financeira (FGV). Ex-Presidente da Fundação Jardim Botânico (2013-2017). Secretário de Finanças do PT Poços de Caldas.
Esse monotrilho em Poços de Caldas não tem nada haver.
Deveria sim, arborisar mais a cidade , criando um paisagismo bonito que de satisfação ao se andar pela cidade.
Ótimo texto!
Como leitor, gostaria muito de um trabalho sério como este que explique à população o peso da carga tributária municipal na sua vida. Uma comparação entre a carga tributária de municípios como Varginha e Pouso Alegre ajudaria a entendermos melhor o tema.
Obrigado!
Excelente artigo. Em tempos de emergência climática intervenções paisagísticas urbanas que impliquem cortes de árvores saudáveis, que produzem sombra e dão qualidade de vida aos munícipes, indicam retrocesso e estão na contramão do que se faz no mundo civilizado. Não convence o argumento da Administração. A sociefade local deve ser ouvida sobre o que pretende para a sua cidade e respectiva saúde ambiental